Obrigada por partilhares esta reflexão connosco, por seres vulnerável e honesto. Ainda há muitos homens, mesmo muitos, com grandes dificuldades comunicacionais: não sabem conversar porque não sabem como se expressar e, como consequência, muitas vezes nem tentam.
O meu companheiro não mente (pelo menos nunca o apanhei numa mentira), mas tem muita dificuldade em falar de sentimentos — agora bem menos do que no início, felizmente. É urgente reconstruirmos a ideia do que é ser homem, em vez de continuarmos a perpetuar mitos como o de que “os homens não choram” e outras crenças do mesmo género.
Feliz por saber que criarás futuros adultos mais capazes de serem honestos e de se abrirem ao diálogo e à verdade.
Acho que a literacia emocional é uma jornada que precisa de ser incentivada em casa, desde cedo, mas também no sistema educacional e na forma como a sociedade se expressa. Na cultura. Há tantas coisas que precisam ser feitas para começarmos a acolher as emoções. Obrigado pelas tuas palavras. Um abraço 🫂
Nunca me senti homem. Não no sentido de género, mas numa moldura que me foi de alguma forma imposta. Sempre tive uma sensibilidade para causas sociais e muitas vezes em jantares de família ouvi dizer "és tão emocional" e coisas do género. Com o tempo entendi que o silêncio era o melhor apaziguador das emoções. Mas nunca vi isso como algo relacionado com a minha condição masculina. Será que por ser mulher teria mais espaço para me expressar? Duvido. Eu duvido porque assisti muitas vezes a situações em que se a mulher disser algo não é ouvida, literalmente, e se o homem disser o mesmo terá toda a atenção do mundo. Por isso, eu não sei se temos assim tão pouco espaço para expressar as nossas emoções.
A minha educação foi numa escola de ensino artístico, desde cedo, encontrei-me num doce conflito: amante de artes e de desporto. Tanto gosto de ver um museu como assistir a uma corrida da F1. Por isso, para mim é mesmo difícil ver na minha vida as mesmas dificuldades impostas pela sociedade contra a inteligência emocional masculina que hoje em dia se fala. Também as tenho mas nunca relacionei isso com o género.
Aliás, acho que até me sinto mulher nesse ponto. Se as mulheres mostram as suas emoções são consideradas histéricas - creio que quando as pessoas diziam "és tão emocional" era uma crítica mais nesse sentido. Não são só os homens que são criticados pelas suas emoções.
O golpe maior na minha vida sobre este assunto foi a perda do meu pai, um buraco profundo que me fechou em casa, numa agorafobia paralisante que roubou um ano inteiro da minha vida. No funeral ouvi vozes por todos os lados a dizer “és o homem da casa”, como se isso fosse uma responsabilidade irremediavel para um rapaz de 19 anos que nem emprego tinha.
Como podia eu ser o “homem da casa” se deixasse a minha mãe e irmã sozinhas para ir à universidade? Adiei a minha entrada na universidade, mudei de área para ficar perto.
E aquelas pessoas que achavam que eu não devia estar muito bem porque não chorava em público nem me vestia de preto. Não, eu não tinha vontade de chorar. Essas palavras foram muito cruéis e sim, aí senti essa coisa de ser homem que falas. Dessa obrigatoriedade de ser a figura central da família.
A mentira dessa masculinidade que me foi imposta foi o que mais me solidificou em isolamento. Mas também o que me ensinou a conhecer-me melhor e ao mundo, sem ter de pedir permissão.
Alonguei-me um pouco, espero que faça sentido esta perspetiva algo diferente mas também igual de alguma forma.
Olá Luís. Obrigado pelo teu comentário. Eu acredito que há uma grande fluidez na nossa expressão de género pelo que sinto que percebi o que queres dizer com não te sentires homem ou te sentires mulher. Lamento que tenhas sido submetido a essa pressão numa altura tão delicada da tua vida e que tenhas tido que mentir, ou esconder, o que sentiste por imposição social e familiar. Infelizmente, é essa o condicionamento geral dos homens. Fico feliz que o texto te tenha feito sentido. Um abraço
Em conversa com a minha Sofia, ela disse : "Os homens têm permissão para demonstrar apenas uma emoção: raiva. Quando têm um descontrolo emocional e dão um murro na mesa é visto como algo aceitável. Mas todas as outras emoções, já não é bem assim". As mulheres, do lado delas, são também impedidas de demonstrar várias emoções, "não exageres, não sejas histérica, entre outros, são muito habituais nas nossas sociedades". Acho muito interessante a observação dela e queria partilhar aqui.
Sim, o condicionamento emocional é transversal aos géneros, de formas diferentes. Parece que as emoções não são bem vindas neste mundo pseudo racional, não é? E concordo com a tua Sofia, aos homens só lhes é permitida raiva e o que dela deriva. E isso é simplesmente horrível. Somos tão mais complexos do que isso.
Obrigada por este post! Imagino a coragem que deve ter exigido. Não é fácil reconhecer a vulnerabilidade, muito menos quando ela nos leva a emoções ou atitudes moralmente incorretas - como a mentira. Reconheço em vários homens essa consciência de que falas (é um começo!) mas também uma enorme incapacidade de a meter em palavras (como fizeste tão bem aqui).
João, para além de escreveres bem, o mais importante, és um ser humano generoso (cuidado com o Alentejo). Todo o homem mente. somos o resultado inacabado do machismo feroz que nos convence que o homem é mais capaz, veloz, inteligente que as mulheres. as caixas servem a quem queira nelas apenas caber. os filhos são os melhores (des)inibidores para o cérebro viciado do adulto. e sim, escrevemos porque sofremos desse síndrome de l´escalier. contra o darwinismo social que estimulemos a empatia. feliz por saber que um pai não irá reproduzir tais premissas machistas e na esperança que a corrente seja cortada por aqui (e agora penso nos pais que fizeram o mesmo e perante um youtuber rasca viram a pirâmide de investimento emocial de uma vida inteira a desabar, Anda um pai a criar um filho para isto?!). e o que tratas sobre as relações é demasiado complexo para uma caixa de comentário, que já vai demasiado longo. no essencial, o teu texto é fundamental para nós homens e carrega uma responsabilidade que poucos estão dispostos a assumir, infelizmente.
É bom sentir a tua empatia e só posso ficar grato pelas tuas palavras. Os filhos são oportunidades de fazermos melhor do que foi feito connosco, mas todos os dias também podemos tomar consciência do que podemos melhorar em nós. Espero que outros homens também leiam este texto e que, pelo menos, os incentive à reflexão. Abraço dos bons!
Também disse umas mentirinhas brancas quando tive uma relação. Só me apercebi desse problema depois da relação acabar. Entretanto não namoro há uns 20 anos, e comecei a meditar, ou seja, a familiarizar-me com a minha mente, e a nutrir os seus aspetos mais nobres, por isso parece que deixou de haver esse impulso.
Thich Nhat Hanh tem uma frase muito interessante: "é uma grande sorte ter um trabalho onde não somos obrigados a mentir". Há muita gente que tem trabalhos em que tem de passar 8 horas por dia a mentir, a enganar.
Penso que grande parte dos problemas sociais vêm das mentiras que vendemos às crianças desde tenra idade, seja no campo da religião, seja no campo da história da humanidade "limpa" dos seus aspetos mais nojentos, entre outros.
O Thich Nhat Hanh tem muita razão no que diz. As mentiras brancas são estruturais, infelizmente. É uma sorte não ter que as dar,realmente. Mas para isso é preciso combater um condicionamento ou ter a sorte de não passar por ele. Um abraço
Obrigada por partilhares esta reflexão connosco, por seres vulnerável e honesto. Ainda há muitos homens, mesmo muitos, com grandes dificuldades comunicacionais: não sabem conversar porque não sabem como se expressar e, como consequência, muitas vezes nem tentam.
O meu companheiro não mente (pelo menos nunca o apanhei numa mentira), mas tem muita dificuldade em falar de sentimentos — agora bem menos do que no início, felizmente. É urgente reconstruirmos a ideia do que é ser homem, em vez de continuarmos a perpetuar mitos como o de que “os homens não choram” e outras crenças do mesmo género.
Feliz por saber que criarás futuros adultos mais capazes de serem honestos e de se abrirem ao diálogo e à verdade.
Um abraço (e até logo!)
Acho que a literacia emocional é uma jornada que precisa de ser incentivada em casa, desde cedo, mas também no sistema educacional e na forma como a sociedade se expressa. Na cultura. Há tantas coisas que precisam ser feitas para começarmos a acolher as emoções. Obrigado pelas tuas palavras. Um abraço 🫂
Nunca me senti homem. Não no sentido de género, mas numa moldura que me foi de alguma forma imposta. Sempre tive uma sensibilidade para causas sociais e muitas vezes em jantares de família ouvi dizer "és tão emocional" e coisas do género. Com o tempo entendi que o silêncio era o melhor apaziguador das emoções. Mas nunca vi isso como algo relacionado com a minha condição masculina. Será que por ser mulher teria mais espaço para me expressar? Duvido. Eu duvido porque assisti muitas vezes a situações em que se a mulher disser algo não é ouvida, literalmente, e se o homem disser o mesmo terá toda a atenção do mundo. Por isso, eu não sei se temos assim tão pouco espaço para expressar as nossas emoções.
A minha educação foi numa escola de ensino artístico, desde cedo, encontrei-me num doce conflito: amante de artes e de desporto. Tanto gosto de ver um museu como assistir a uma corrida da F1. Por isso, para mim é mesmo difícil ver na minha vida as mesmas dificuldades impostas pela sociedade contra a inteligência emocional masculina que hoje em dia se fala. Também as tenho mas nunca relacionei isso com o género.
Aliás, acho que até me sinto mulher nesse ponto. Se as mulheres mostram as suas emoções são consideradas histéricas - creio que quando as pessoas diziam "és tão emocional" era uma crítica mais nesse sentido. Não são só os homens que são criticados pelas suas emoções.
O golpe maior na minha vida sobre este assunto foi a perda do meu pai, um buraco profundo que me fechou em casa, numa agorafobia paralisante que roubou um ano inteiro da minha vida. No funeral ouvi vozes por todos os lados a dizer “és o homem da casa”, como se isso fosse uma responsabilidade irremediavel para um rapaz de 19 anos que nem emprego tinha.
Como podia eu ser o “homem da casa” se deixasse a minha mãe e irmã sozinhas para ir à universidade? Adiei a minha entrada na universidade, mudei de área para ficar perto.
E aquelas pessoas que achavam que eu não devia estar muito bem porque não chorava em público nem me vestia de preto. Não, eu não tinha vontade de chorar. Essas palavras foram muito cruéis e sim, aí senti essa coisa de ser homem que falas. Dessa obrigatoriedade de ser a figura central da família.
A mentira dessa masculinidade que me foi imposta foi o que mais me solidificou em isolamento. Mas também o que me ensinou a conhecer-me melhor e ao mundo, sem ter de pedir permissão.
Alonguei-me um pouco, espero que faça sentido esta perspetiva algo diferente mas também igual de alguma forma.
Olá Luís. Obrigado pelo teu comentário. Eu acredito que há uma grande fluidez na nossa expressão de género pelo que sinto que percebi o que queres dizer com não te sentires homem ou te sentires mulher. Lamento que tenhas sido submetido a essa pressão numa altura tão delicada da tua vida e que tenhas tido que mentir, ou esconder, o que sentiste por imposição social e familiar. Infelizmente, é essa o condicionamento geral dos homens. Fico feliz que o texto te tenha feito sentido. Um abraço
Em conversa com a minha Sofia, ela disse : "Os homens têm permissão para demonstrar apenas uma emoção: raiva. Quando têm um descontrolo emocional e dão um murro na mesa é visto como algo aceitável. Mas todas as outras emoções, já não é bem assim". As mulheres, do lado delas, são também impedidas de demonstrar várias emoções, "não exageres, não sejas histérica, entre outros, são muito habituais nas nossas sociedades". Acho muito interessante a observação dela e queria partilhar aqui.
Sim, o condicionamento emocional é transversal aos géneros, de formas diferentes. Parece que as emoções não são bem vindas neste mundo pseudo racional, não é? E concordo com a tua Sofia, aos homens só lhes é permitida raiva e o que dela deriva. E isso é simplesmente horrível. Somos tão mais complexos do que isso.
Obrigada por este post! Imagino a coragem que deve ter exigido. Não é fácil reconhecer a vulnerabilidade, muito menos quando ela nos leva a emoções ou atitudes moralmente incorretas - como a mentira. Reconheço em vários homens essa consciência de que falas (é um começo!) mas também uma enorme incapacidade de a meter em palavras (como fizeste tão bem aqui).
Obrigado eu pelas tuas palavras. Não foi fácil escrever sobre esta minha sombra, mas pelo retorno que tenho tido sinto que fiz bem.
João, para além de escreveres bem, o mais importante, és um ser humano generoso (cuidado com o Alentejo). Todo o homem mente. somos o resultado inacabado do machismo feroz que nos convence que o homem é mais capaz, veloz, inteligente que as mulheres. as caixas servem a quem queira nelas apenas caber. os filhos são os melhores (des)inibidores para o cérebro viciado do adulto. e sim, escrevemos porque sofremos desse síndrome de l´escalier. contra o darwinismo social que estimulemos a empatia. feliz por saber que um pai não irá reproduzir tais premissas machistas e na esperança que a corrente seja cortada por aqui (e agora penso nos pais que fizeram o mesmo e perante um youtuber rasca viram a pirâmide de investimento emocial de uma vida inteira a desabar, Anda um pai a criar um filho para isto?!). e o que tratas sobre as relações é demasiado complexo para uma caixa de comentário, que já vai demasiado longo. no essencial, o teu texto é fundamental para nós homens e carrega uma responsabilidade que poucos estão dispostos a assumir, infelizmente.
É bom sentir a tua empatia e só posso ficar grato pelas tuas palavras. Os filhos são oportunidades de fazermos melhor do que foi feito connosco, mas todos os dias também podemos tomar consciência do que podemos melhorar em nós. Espero que outros homens também leiam este texto e que, pelo menos, os incentive à reflexão. Abraço dos bons!
Também disse umas mentirinhas brancas quando tive uma relação. Só me apercebi desse problema depois da relação acabar. Entretanto não namoro há uns 20 anos, e comecei a meditar, ou seja, a familiarizar-me com a minha mente, e a nutrir os seus aspetos mais nobres, por isso parece que deixou de haver esse impulso.
Thich Nhat Hanh tem uma frase muito interessante: "é uma grande sorte ter um trabalho onde não somos obrigados a mentir". Há muita gente que tem trabalhos em que tem de passar 8 horas por dia a mentir, a enganar.
Penso que grande parte dos problemas sociais vêm das mentiras que vendemos às crianças desde tenra idade, seja no campo da religião, seja no campo da história da humanidade "limpa" dos seus aspetos mais nojentos, entre outros.
Abraços
O Thich Nhat Hanh tem muita razão no que diz. As mentiras brancas são estruturais, infelizmente. É uma sorte não ter que as dar,realmente. Mas para isso é preciso combater um condicionamento ou ter a sorte de não passar por ele. Um abraço