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Avatar de Raquel Dias da Silva

Obrigada por partilhares esta reflexão connosco, por seres vulnerável e honesto. Ainda há muitos homens, mesmo muitos, com grandes dificuldades comunicacionais: não sabem conversar porque não sabem como se expressar e, como consequência, muitas vezes nem tentam.

O meu companheiro não mente (pelo menos nunca o apanhei numa mentira), mas tem muita dificuldade em falar de sentimentos — agora bem menos do que no início, felizmente. É urgente reconstruirmos a ideia do que é ser homem, em vez de continuarmos a perpetuar mitos como o de que “os homens não choram” e outras crenças do mesmo género.

Feliz por saber que criarás futuros adultos mais capazes de serem honestos e de se abrirem ao diálogo e à verdade.

Um abraço (e até logo!)

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Avatar de Luís Leite – O que Faz Falta

Nunca me senti homem. Não no sentido de género, mas numa moldura que me foi de alguma forma imposta. Sempre tive uma sensibilidade para causas sociais e muitas vezes em jantares de família ouvi dizer "és tão emocional" e coisas do género. Com o tempo entendi que o silêncio era o melhor apaziguador das emoções. Mas nunca vi isso como algo relacionado com a minha condição masculina. Será que por ser mulher teria mais espaço para me expressar? Duvido. Eu duvido porque assisti muitas vezes a situações em que se a mulher disser algo não é ouvida, literalmente, e se o homem disser o mesmo terá toda a atenção do mundo. Por isso, eu não sei se temos assim tão pouco espaço para expressar as nossas emoções.

A minha educação foi numa escola de ensino artístico, desde cedo, encontrei-me num doce conflito: amante de artes e de desporto. Tanto gosto de ver um museu como assistir a uma corrida da F1. Por isso, para mim é mesmo difícil ver na minha vida as mesmas dificuldades impostas pela sociedade contra a inteligência emocional masculina que hoje em dia se fala. Também as tenho mas nunca relacionei isso com o género.

Aliás, acho que até me sinto mulher nesse ponto. Se as mulheres mostram as suas emoções são consideradas histéricas - creio que quando as pessoas diziam "és tão emocional" era uma crítica mais nesse sentido. Não são só os homens que são criticados pelas suas emoções.

O golpe maior na minha vida sobre este assunto foi a perda do meu pai, um buraco profundo que me fechou em casa, numa agorafobia paralisante que roubou um ano inteiro da minha vida. No funeral ouvi vozes por todos os lados a dizer “és o homem da casa”, como se isso fosse uma responsabilidade irremediavel para um rapaz de 19 anos que nem emprego tinha.

Como podia eu ser o “homem da casa” se deixasse a minha mãe e irmã sozinhas para ir à universidade? Adiei a minha entrada na universidade, mudei de área para ficar perto.

E aquelas pessoas que achavam que eu não devia estar muito bem porque não chorava em público nem me vestia de preto. Não, eu não tinha vontade de chorar. Essas palavras foram muito cruéis e sim, aí senti essa coisa de ser homem que falas. Dessa obrigatoriedade de ser a figura central da família.

A mentira dessa masculinidade que me foi imposta foi o que mais me solidificou em isolamento. Mas também o que me ensinou a conhecer-me melhor e ao mundo, sem ter de pedir permissão.

Alonguei-me um pouco, espero que faça sentido esta perspetiva algo diferente mas também igual de alguma forma.

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